10 de fevereiro de 1963: três grevistas são mortos a tiros em Reesor Siding – uma das maiores tragédias da história trabalhista do Canadá

Três grevistas foram mortos a tiros em Reesor Siding – uma das maiores tragédias da história trabalhista do Canadá.

grevistas mortos
Detalhe do monumento em homenagem às vítimas da tragédia de Reesor Siding, Canadá. Fotografia: str8pipe338/Flickr

Igor Natusch

Localizada no estado de Ontario, no Canadá, Reesor é, hoje, uma cidade fantasma. Esse mesmo local, porém, foi palco de um histórico e sangrento confronto entre grevistas e fazendeiros, que resultou em três mortes e marcou profundamente o imaginário trabalhista no país. Ocorrido em 10 de fevereiro de 1963, o massacre foi o desfecho trágico de uma greve que durou pouco mais que um mês e que desperta, até hoje, debates acalorados – e, por vezes, amargos – entre os canadenses. 

A paralisação, na verdade, teve origem em janeiro, na cidade vizinha de Kapuskasing. Lá, cerca de 1.500 lenhadores ligados ao sindicato dos madeireiros e serralheiros iniciaram um movimento contra a Spruce Falls Power and Paper Company, principal empregadora e um dos pilares da economia de toda a região. A empresa, especializada na produção de polpa de celulose, tinha proposto o congelamento de salários e exigido que os profissionais trabalhassem sem descanso durante várias semanas, como forma de atender a demanda.

A greve, porém, foi mal recebida pelos fazendeiros independente da região, que também supriam a Spruce Falls com madeira e dependiam decisivamente desse comércio para a manutenção de suas propriedades. Mesmo pressionados pelos grevistas, os donos de terras se recusaram a diminuir as remessas, o que provocou ações de sabotagem e criou um sentimento de animosidade entre os dois polos.

Em 10 de fevereiro, a rivalidade chegou ao auge. Cerca de 400 grevistas se dirigiram para interromper o embarque de uma carga em Reesor Siding (pequena propriedade a menos de 3 km de Reesor), calculada em cerca de 600 toras de madeira. Um pequeno contingente da polícia provincial de Ontario, somando apenas 20 homens, tentou erguer uma barricada para deter os trabalhadores revoltados, sem sucesso. Alguns fazendeiros, porém, estavam armados com rifles, e surgiram atirando contra a multidão desarmada. Ao todo, onze grevistas foram atingidos pelos disparos. Três deles (Fernand Drouin e os irmãos Joseph e Irenée Fortier) morreram no local.

Diante dos assassinatos, a ação das autoridades foi questionável, para dizer o mínimo. Vinte proprietários rurais foram acusados de homicídio, mas apenas três foram condenados, e por um crime bem menos grave: porte ilegal de arma, com multa de 150 dólares canadenses para cada um. Um inquérito concluiu que os policiais presentes em Reesor Siding foram omissos, ao fazerem vista grossa para os armamentos trazidos pelos fazendeiros; contudo, nenhum deles sofreu qualquer punição pelo acontecido. Por outro lado, mais de 200 integrantes do sindicato foram presos, com 137 recebendo condenação por associação ilegal e recebendo multas que custaram 27.000 dólares canadenses ao todo. A greve, na verdade, encerrou-se bem antes dos julgamentos: no dia 17 de fevereiro, os lenhadores concordaram em voltar ao trabalho, após garantias de que os termos originais de seus contratos seriam mantidos pela Spruce Falls.

O sentimento amargo em torno da tragédia marcou Reesor, uma localidade que já vivia tempos difíceis e, na época da greve, não tinha mais sequer uma igreja funcionando. Um memorial para o incidente, pago pelo sindicato, foi erguido na cidade – uma iniciativa que sofreu críticas e inclusive ameaças de derrubada. Stompin Tom Connors, um dos principais cantores folk da história do Canadá, escreveu a música “Reesor Crossing Tragedy” em homenagem aos grevistas mortos – e relatou depois ter recebido ameaças de morte, com a exigência de que não tocasse a canção em shows.

Com a decadência da agricultura e da produção de madeira na região, os últimos negócios em Reesor foram encerrados na metade dos anos 1970. Hoje, ninguém mais reside no local, mas o monumento em lembrança aos grevistas mortos segue visível da estrada, marcando os trágicos eventos ocorridos há quase seis décadas.

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